quinta-feira, julho 12, 2007


O dia amanheceu triste porque o adormecer também foi triste.
Ontem num acto rápido e decidido, apanhei o metro para campanhã e de lá apanhei o comboio das 19h14 para Aveiro. Há muito que não fazia o caminho dos apeadeiros até Aveiro e a viagem parecia interminável. Fui contando os minutos numa ansiedade grande para chegar à Rua José Luciano de Castro. O jantar era em casa da tia Céu, sabia que era coelho e que havia sopa, mas o medo das imagens que iria encontrar atormentavam-me. Na minha cabeça obrigava-me a lembrar os banhos de algas, os crepes com gelado caseiro, o bife mal passado, a primeira vez que visitei a Cunha Rodrigues, o alfa, os chapéus, as minhas primeiras botas de cano alto, o cheiro ao bom perfume e os tecidos da rodier, os cremes da celulite, todos os meus cursos de teatro, a plateia da rosilina, a pantera cor de rosa, o passeio de coche em sintra, a bola de carne, o sabor do batôn, as saias rodadas e os sapatos de salto, as tantas carteiras, os trabalhos de história, o pantanal, o meu mestrado, o relatorio da ordem, a viagem pelo Planeta Azul, os lanches na pastelaria Ramos, o cv do pai, o leite creme único suportável, as respostas do um contra todos sempre certas, os cremes para a cara, o cheiro a clarin´s, os guarda chuvas e o I´m dancing in the rain, os dias do cientista no troviscal, as papas de cereais, o filme do Principezinho, a ginástica nas portas, o jean e sempre na moda, as passerelles e Itália, as viagens e os livros, as colecções, o doce de café com amêndoas, as ídas às compras, o Fievel, as confidências...ficaria aqui dias seguidos a lembrar e a relembrar. Os momentos são únicos e eternos se os quisermos manter vivos. Cada vez mais aceito que os segundos são preciosos e que cada dia deve ser vivido como o último, as surpresas surpreendem-nos, assaltam os nossos passos. Os descompassos nos meus passos e nos meus abraços são vistos em medos que me circundam e me prendem ao fugir do que poderá vir. Não aceito. Refugio-me na esperança desse melhor segundo ser mesmo o melhor e encubro que estou assustada. Como podem essas mesmas imagens, essas referências passarem do que existe e vive e mexe e acorda ao estado de dormência?...como faz tudo sentido se num momento exacto se sofre uma reviravolta e deixa de ter força para prosseguir? Porque construimos nós o castelo se de seguida a água passa a levá-lo...
Gostei muito do coelho e a gelatina tinha pedaços de banana, a minha tia vestia a saia do laçarote.

1 Comments:

Blogger ameliemeninamoça said...

A vida é mesmo este carocel que desejamos que nunca acabe...Mas como dizes fazemos castelos na praia pela beleza e prazer que isso nos dá... e são esses momentos que ficam para a eternidade das nossas Memórias. Tenho a presença da nossa fotografia em Moledo a fazer esses castelos...
E depois são as memórias e a incerteza do Futuro que nos faz continuar e querer sempre e mais castelos de areia com os amigos, familia,...
Beijinho

7:41 da manhã  

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