quarta-feira, maio 17, 2006





"Quarto interior...quarto interior com janelas. Abrigo de solidões e devaneios."

Era uma casa muita engraçada, não tinha telhas não tinha nada...lalalalala

Um quarto de quase palmo e meio, de mil um castanhos, de janelas de muitos tamanhos, que andava e mexia e mudava de lugar... uma chuva de arroz num toque de mãos que parecia macio, uma luz que incidia directamente num rodopio de sapatos que ousava não querer pé e as cores traduziam talvez um outono ou uma seara ou talvez um fim de tarde...
Havia uma árvore, sem folhas, não muito alta e um pássaro! Os pés nus num movimento alternado criavam aos meus olhos desenhos imaginários e novas rotas de passagem e a dança não terminava e a cumplicidade dos dois era um enlace de energia, movimento e improvisação que soltavam as palavras. E um dos quartos imaginários abria uma das páginas dos desenhos da Dri, o André Braga, o menino do chapelinho e dos fios entrelaçados saltava agora de um espaço mundo inerior para um quarto imaginário de personagens reais. E a Dri não imagina que os seus bonecos mexem verdadeiramente, sorriem sem o traço do lápis e trepam árvores.


"No local onde habitamos

(um quarto interior no alto dum campanário)

as aves fazem ninho na minha cabeça,

só que um dia mais uma vez emigrarão para bem longe,

deixando-nos sós.

Eu e o outro, de novo entregues, um ao outro

coabitaremos sós

até que novamente passe a época das chuvas e elas voltem!

Sós de novo, o outro domina-me...

Enrosca-se em mim e asfixia-me com os meus pensamentos

(que a mim me libertam!)

Por vezes arrepende-se, e comigo tremendo e chorando,

de novo se enrosca e acariciando-me...

Adormecemos...

Nesta cama que é a locomotiva da minha carruagem deste comboio dos sonhos.

E assim partimos em busca da Cinderela,

trajectos contorcidos, trajectos destruídos, trajectos que não fluem...

Nem como o pensamento, nem como a vontade de a encontrar.

Nos montes do Alentejo,

montes de Dulcineias dançam envoltas nas velas dos moinhos.

Mas onde estará a Cinderela?

Mil sapatos nos confundem

(haverá só uma Cinderela?)

E subo de novo, neste descampado claustrofóbico, ao alto de uma árvore

(que me lembra o árido campanário onde habitamos)

e daí contemplo a planície Alentejana

e vejo as aves que voam de novo e procuram o ninho da minha cabeça,

e canto-lhes, mas elas não nos ouvem.

É então que voamos,

NÃO!!!!!

É então que eu voo.

O outro fica cá na terra apodrecendo,

o outro que me infernizou a vida que apodreça!

Só eu me liberto e voo no bico de uma ave,

que me levará à minha Cinderela!"

Pedro Sotto Mayor


3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quem me dera,...sim quem me dera poder ver tal sonho, tal magia...
Mas não posso, não agora que tento sonhar e a magia pode aparecer...
Bonito...como sempre... as palavras que só tu sabes escolher e combinar...
Beijinho

12:22 da manhã  
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